segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Vagueios

Deambulo pelas ruas de Ljubljana. Esta é agora a minha casa, ou deveria ser.
O piso está molhado, devido à chuva que, de vez em quando, se lembra de fazer uma entrada em grande; para onde quer que olhe, vejo caras que nada me são familiares, nada me dizem. Tentam proteger-se do ar gelado, típico desta cidade, nos seus inúmeros agasalhos. Na minha pele somente envergo uma blusa fina, o meu casaco de cabedal e uns jeans. Não me importam os olhares atónitos, de surpresa, ou de compaixão que me são lançados pelos nativos que aqui residem. A minha mente encontra-se noutro lugar e é tudo o que me importa. O frio? Não o sinto. A chuva? Que caia, eu permanecerei imune ao seu toque gelado na minha pele.
Não posso negar que me sinto acolhida nesta cidade como se de sua filha me tratasse: a cada esquina que contorno, os meus olhos são inundados pela beleza arquitectónica de si proveniente; a diversidade cultural que aqui encontro relembra-me os turistas apressados, a pedir direcções pelas ruas da Baixa, a apontar a estátua de Camões em sinal de admiração, ou até mesmo a encontrarem a calma e a paz por que há tanto ansiavam, à beira do Tejo.
No espaço de apenas uma semana conheci pessoas fantásticas, que se entreolham como uma família; sei possuir aqui um lugar especial. No entanto, muito difícilmente encontrarei aqui a casa que encontro em Lisboa.
Muito difícilmente encontrarei noutra pessoa a casa que encontro em ti.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Deixar tudo para trás.

Estendo-me no chão do meu quarto, o frio que de si emana cola-se à minha pele.
Penumbra.
Da janela, um único rasgo de luar corta a atmosfera sombria deste espaço. Inconsolável amante das horas fugidias, percorre o meu corpo à medida que as horas passam. Não me mexo.
Silêncio.
Consigo ouvir os meus fantasmas que pairam por entre estas quatro paredes, cada um mais persistente que o outro. Não me dão paz. Como eu quero paz.
Amargo.
É o gosto da minha boca. Fecho os olhos e, navegando nos confins da minha interminável memória, procuro o teu último beijo. Agarro-me a esse momento, revivo-o. Outra vez. E mais uma vez. Novamente. Não quero parar.
Sufocante.
Entranhado no ar, como uma nuvem disforme que teima em ficar, o cheiro do meu último cigarro. Porém já novamente a minha mente divagou e, junto ao sabor adocicado do teu beijo, se aliou o aroma da tua pele. Aquela mesma que beijei vezes sem conta. Quero adormecer em ti.
Abro os olhos. Encontras-te ao meu lado. Enfrento o teu olhar com o meu, algo não está bem. Como estás triste, mas porquê? Num sussurro abafado imploras-me ao ouvido: "Não vás". Não entendo, a que te referes tu? Tento abrir a boca para falar, mas não articulo uma única palavra. A tua cabeça, previamente encostada sobre o meu ombro, abandona-me agora. Numa tentativa inútil de te alcançar, o meu cérebro ordena à minha mão que te impeça de me deixar. Incompreensível. Petrificada.
Num esgar de impotência, observo a lágrima que morosamente desce pelo teu rosto. A tua mão afaga-me a face, os teus lábios tocam os meus. Se estou a chorar, não o sinto, pois já as tuas lágrimas contornam as minhas feições. Afastas-te do meu corpo, agora gélido pela ausência do teu contacto. Vejo-te partir, nunca afastando os teus olhos dos meus.
O sabor amargo volta ao meu paladar.
O cheiro nauseante do tabaco substitui o da tua pele.
Silêncio.
Penumbra.
Como que numa epifania demorada, lanço um olhar sobre um dos cantos do meu quarto. Duas malas feitas, preparadas para esquecer. "O meu reino por um cavalo".
Valerá a pena?