sábado, 27 de fevereiro de 2010

Lisboa ao entardecer


(...) Imagino a felicidade no teu rosto e sorrio. De mãos dadas, ora afastadas ora mais próximas, passeamos à beira do Tejo e estou completa. Vejo os últimos raios de sol, avermelhados, a reflectirem-se nos teus olhos e não resisto a tomar-te nos braços e a beijar-te apaixonadamente, enquanto que, com todo o teu amor, me apertas contra o teu corpo e correspondes ao meu beijo, os olhos fechados. Passas, docemente, com uma mão pela minha cara e com o polegar demoras-te nos meus lábios, enquanto me olhas fixamente, pergunto-me o que verás. Pelo teu sorriso exausto e pela lágrima que agora escorre pelo teu rosto, sei automaticamente que sentes o mesmo que eu. No horizonte o sol despede-se para dar lugar à noite, rodeio-te com os meus braços, por trás, e assim ficamos a olhá-lo, o aroma dos teus cabelos a inundar-me os sentidos, o calor da tua pele contra os meus lábios. És a minha vida.


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pensamentos nocturnos

São 2 da manhã e mais uma vez o sono me abandonou. Numa mão tenho a caneta com que te escrevo, na outra o cigarro habitual que me faz companhia nas noites de solidão e que teima em arder, como que a recordar-me de que lá fora o tempo passa, a vida continua. No escuro do meu quarto ressoa o tom de angústia com que o Jeff Buckley canta "Hallelujah", sempre me intrigou este título. Uma expressão que lembra esperança, que indica que algo de divino aconteceu, e no entanto todo o conteúdo desta composição indica o contrário, aliando-se à melancolia transmitida pela guitarra. O que farás tu neste momento? Paro por um segundo para pensar no quão ridículo soa quando me dirijo a ti, como que se esperasse resposta. Sim, é mais um texto sobre ti, sobre a falta que me fazes.
De onde me encontro vejo a minha bandeira, solitária na parede do meu quarto, a recordar-me do quão sozinha estou, a milhares de quilómetros de distância de ti. Em tempos a tua bandeira fazia-lhe companhia, e ali permaneceram elas lado a lado, e o teu amor pertencia-me.
Recordo-te esta noite, e em todas as outras. Pergunto-me se sentirás a minha falta, se amaldiçoas o dia em que me viste partir, magoada, sabendo que jamais voltaria. Sim, ainda sinto no meu peito a humilhação e a frustração pelas quais me fizeste passar. Não, acho que não serei capaz de te perdoar. Odeio que permaneças dentro de mim dia e noite, odeio que não seja capaz de te apagar da minha mente. Odeio-te por todo o amor que me deste, para mais tarde o vires a retirar. Odeio este estado de melancolia permanente em que me embalei desde o dia em que te foste embora, contigo uma parte de mim morreu.
E no entanto, vivo por ti.