quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Espera

O que faço eu aqui?
Esta pergunta ressoa insistentemente na minha cabeça enquanto desço a rua principal que termina na belíssima Praça de Prešeren. Multidões passam por mim, envoltas nas suas vidas sou invisível aos seus olhos. Não me faz qualquer diferença, pois nem aquelas que me vêem claramente, mesmo não estando na minha presença, me transmitem qualquer tipo de calor que me envolve como se de um abraço se tratasse. Odeio-me por não conseguir entregar-me de corpo e alma a tais pessoas; esforcei-me, sem sucesso.
Recosto-me junto à estátua de France Prešeren, poeta Romântico que viveu toda uma vida preso a um amor impossível e que, mesmo ao resignar-se juntando-se com aquela que viria a ser a mãe dos seus três filhos, no seu leito de morte confessou nunca ter esquecido a sua musa e tê-la amado em cada dia da sua vida.
Com um sentimento forte de compaixão por esta figura, fecho os olhos e deixo que os raios de sol penetrem a minha pele. O seu calor afaga-me o rosto e sinto-me viva. Pergunto-me o que farás neste preciso momento em que a minha mente está tão preenchida com a tua imagem ao ponto de eu temer pela minha sanidade. Várias imagens deslizam perante os meus olhos, como um filme de má qualidade que, com o passar do tempo se vai esbatendo a pouco e pouco: A tua expressão de incredulidade ao veres-me pela primeira vez em frente a ti, os sussurros murmurados no escuro do nosso quarto enquanto o mundo lá fora desaparecia, inexistente, inútil, sem sentido. O teu sorriso aquando da minha ausência. Os vossos sorrisos.
Sinto-me impotente, vazia, quero gritar o teu nome. Quero ir ao teu encontro e dizer-te que o Destino se enganou - sim, também ele erra como qualquer outro mortal - e que o teu lugar é ao meu lado. Nos meus braços. Na minha pele. Não encontro palavras que alberguem a força que este sentimento impõe em mim e sinto-me frustrada: As palavras são tudo o que me resta.
O que faço eu aqui?
Fugi de tudo o que me rodeava por não aguentar, por não suportar mais a agonia silenciosa que a tua ausência despertava em mim. Por todas as palavras e rostos de compaixão que a gente à minha volta me lançava, sem conseguirem entender a verdadeira dor que em mim se alastrava infecciosamente como um cancro que me faria viver em angústia, ou não viver de todo.
O que faço eu aqui? Fugi da tua memória, para agora me aperceber de que tal nunca se concretizará. Esteja onde estiver, faça o que fizer, tu resides em mim. Espero por ti como uma rocha que nem os ventos mais fortes conseguirão mover. Não o faço por Romantismo ou por teatralidade, mas sim porque o Destino necessita de alguém que emende o erro que cometeu.

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