quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O teu fantasma

Longe, mas tão perto, entranhas-te na minha pele como uma maldição que me foi concedida pelo erro de te ter deixado partir, imóvel, muda. Respiro a pensar no dia em que novamente cruzarei o meu olhar com o teu; dói-me o peito. Esse dia nunca virá, pois não? Vivo numa relação de encruzilhadas com a minha mente, onde o teu fantasma me assombra e controla cada movimento do meu corpo. O meu cérebro obedece-lhe, eterno escravo desse teu perfume que me soube entorpecer, residindo naquele espaço da minha memória onde terás sempre abrigo. No fundo, é isso que significo para ti; confessa. Serei sempre aquele pedaço da tua memória que tomarás como certo, não vendo portanto qualquer motivo para agir. Espero por ti, não esperando nada de ti.
Cerro os olhos, exausta, e imagino as tuas mãos nas dela; o teu corpo, que para mim não passa já de uma cortina de fumo, saciando viva e carnalmente o dela. Quero chorar mas não estou sozinha, quero gritar mas não tenho a energia necessária.

Passas com uma mão no meu rosto e uma brisa gelada atravessa-me o corpo para além da pele, para além da carne, para além do visível.

Acordo com um arrepio que me percorre a espinha; as minhas lágrimas ensopam a almofada, que por sua vez me ensopa o rosto. Ao meu lado, qual é a minha incredulidade, dormes profundamente e em paz. Sem preocupações. Estendo a minha mão para alcançar o teu rosto, porém para minha surpresa os meus dedos atravessam o teu ser e o teu corpo estremece. Estudo, confusa, a minha mão; nada vejo senão o teu rosto.

1 comentário: